Estudo sobre Daniel Capítulo 9
17/11/2017
Acontecimentos Futuros: Um Resumo
21/11/2017

PROFECIAS DE DANIEL

INTRODUÇÃO

Ninguém pode estudar as profecias a respeito do fim dos tempos, baseando-se em um só capítulo ou um só livro da Bíblia. Foi da vontade de Deus que a revelação concernente ao plano da salvação e ao reino de Jesus Cristo se desse de maneira paulatina e através de muitos livros da Bíblia. Deus tem também um especial cuidado com Israel, que, embora castigado pela sua incredulidade, tem a promessa de bênçãos futuras com a vinda do Messias. Atualmente só a subsistência de Israel junto a inúmeros inimigos é um exemplo claro que evidencia que Deus tem um plano para a conversão dessa nação a Jesus Cristo. Se o conjunto de profecias for ignorado, corre-se o risco de não se descobrir verdades que antes para nós estavam encobertas.

O verdadeiro cristão reconhece a Bíblia como um livro inspirado por Deus e o crente da Igreja Reformada a reconhece como única regra de fé e prática.

A Bíblia se refere a duas vindas de Jesus Cristo: a primeira vinda com a finalidade de que Cristo, pelo seu sangue derramado na cruz, pudesse pagar os nossos pecados e permitir que fossemos justificados perante Deus; a segunda vinda será para julgamento e para instituir o reinado de Cristo na terra e nos conduzir ao seu reino eterno. Portanto, a primeira vinda já ocorreu, Jesus Cristo já cumpriu sua missão. O estudo das profecias, que se referem à sua primeira vinda, é motivo de estudo de muitos autores e não vai ser abordado aqui. Por isso vamos nos ater a estudar os acontecimentos futuros, estudo esse chamado de Escatologia, o qual passa necessariamente pelo livro de Daniel.

É importante também lembrar que muitas vezes as profecias tratam de um assunto e logo a seguir segue-se uma profecia bem mais longínqua no futuro, como se o profeta visse os dois fatos em uma mesma visão. Isso ocorre, como veremos, nos capítulos 7 e 8 de Daniel.

Só são apresentados aqui os capítulos proféticos do livro de Daniel, que deve ser lido conjuntamente com os textos abaixo.

 DANIEL CAPÍTULO 2

O rei babilônico Nabucodonosor (605-562AC) teve uns sonhos, que o deixaram muito perturbado e, sem revelá-los, solicitou aos sábios do reino que revelassem o que sonhou, mas nenhum sábio do reino o conseguiu.

Após orar a Deus, juntamente com seus três companheiros, Daniel recebeu a revelação numa visão da noite (Dn 2:19) a qual é referida em Daniel 2:27-35. Daniel, no verso 28, diz ao rei que só o Deus dos céus poderia revelar o sonho e que Deus revelara o que há de acontecer no fim dos dias.

Daniel revela que o rei sonhou com uma grande estátua que tinha uma cabeça de ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e as coxas de cobre, as pernas de ferro e os pés em parte de ferro e em parte de barro. “Uma pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu os pés da estátua e os esmiuçou. E também esmiuçou o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro”. (Dn 2:31-36)

Somente a partir do v. 38 Daniel começa sua interpretação: a cabeça de ouro da estátua representava o reino da Babilônia; a seguir o peito e braços de prata outro reino, inferior ao de Nabucodonosor. Um terceiro reino de metal viria após este e, por último, viria um quarto reino forte como o ferro, que quebra tudo. Com as revelações que aparecem nos capítulos 7 e 8 e a História, é possível relacionar o peito e os braços de prata da estátua com o reino medo-persa que se seguiria ao babilônico, o ventre e as coxas de cobre com o 3º. Reino: o reino da Grécia de Alexandre, o Grande, e as pernas de ferro com o romano. Já os pés de ferro misturado com o barro representam um reino futuro. Como os artelhos são parte de barro e parte de ferro será um reino em parte forte e em parte frágil, portanto um reino dividido. Como este será destruído pela pedra, pode-se inferir que ele ainda não apareceu e será futuro.

No verso 44 ele revela o aparecimento de um reino que jamais será destruído. Quando Daniel refere que a pedra “esmiuçará e consumirá todos esses reinos” ele está interpretando o v. 34 “uma pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou. Esta imagem da pedra, no entender dos intérpretes das profecias, é o Messias, na sua segunda vinda, quando destrói o último inimigo.

Sobre este último evento Daniel não especifica quando ocorreria.

Neste capítulo, a visão profética é vista segundo a perspectiva humana, descrevendo os reinos como fortes e gloriosos. No entanto, Daniel não recebe a revelação de quais são eles. Já no capítulo 7 esses reinos são descritos da perspectiva divina e são merecedores de punição.

Para Pentecost os dez dedos de ferro misturados com barro seriam reinos autônomos de uma coligação de reinos, que surgiriam como prolongamento do quarto reino, o romano. A pedra que o destrói só pode ser Jesus, o Messias, que tem poder para aniquilar esse reino composto por uma coligação de 10 reinos. O reino que jamais será destruído só pode ser o reino de Cristo, a ser instituído após a sua 2ª vinda.

 DANIEL CAPÍTULO 7

A visão de Daniel aconteceu no reinado babilônico à época de Belsazar, no primeiro ano de seu reinado.

Pela História, o rei seria Nabonido (556-539AC), que delegou o poder de governar a seu filho Belsazar. Nos versos 3-8 ele relata a visão de quatro animais: o primeiro comparado a um leão, depois o segundo a um urso, o terceiro a um leopardo. O quarto animal descrito nos versos 7-8 era um animal terrível e espantoso muito forte e que devorava tudo e que tinha dez pontas. Dentre estas, subiu uma ponta pequena, diante da qual três das primeiras foram arrancadas; nessa ponta havia olhos, como olhos de homem, e uma boca que falava grandiosamente. O significado desses quatro animais aparece mais adiante no v 17.

Daniel faz uma interrupção aqui  para introduzir a imagem dos versos 9-10: Daniel viu “uns tronos e um ancião de dias se assentou “a sua veste era branca como a neve, e o cabelo da sua cabeça como a limpa lã; o seu trono, chamas de fogo, e as rodas dele, fogo ardente”. Essa imagem assim como aquela de Apocalipse 1:14-16, é uma clara referência ao Senhor Jesus Cristo na sua glória.

Ele se assentou para juízo (v 10). Para Pentecost a imagem aqui descrita representa o próprio Senhor Jesus Cristo como rei e juiz. Para Corrêa esse tribunal se dá no céu antes do Senhor Jesus vir pessoalmente em glória. (Ap 4)

Daniel também viu o quarto animal ser morto e o domínio ser tirado dos outros animais (v. 11-12 ).

Em seguida ele viu :” e eis que vinha nas nuvens do céu um como o Filho do Homem; e dirigiu-se ao ancião de diase foi-lhe dado o domínio, e a honra e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará” (v 13-14).

Quando Daniel revela “e eis que vinha nas nuvens do céu”, trata-se de uma clara descrição de Mt 24:30, Ap 1:7 e muito parecida com aquela de Apocalipse 14:14 referente à 2ª vinda de Jesus Cristo, na qual Ele vem em poder e glória e para juÍzo. Note-se que Jesus usou a palavra Filho do Homem em ocasiões em que ele se referia à sua divindade e à sua segunda vinda em Mt 24:30-31; Ap 14:14. O v14 do capitulo 7de Daniel mostra a instituição de um domínio eterno, o qual só poderá ser o do próprio Jesus Cristo.

Por ocasião da sua segunda vinda, Jesus Cristo julgará aqueles que não creram na pregação do Evangelho e perseguiram os santos e os mataram, negando-o totalmente.

Daniel recebe a interpretação (v.17) referente aos animais: são quatro reis, não entrando em mais detalhes aqui.

No v. 18 “Mas os santos do Altíssimo receberão o reino para todo o sempre e de eternidade a eternidade” Daniel interrompe a interpretação sobre os 4 animais e introduz o conceito de um reino futuro.

No v 19 Daniel tem desejo de conhecer mais sobre o quarto animal, diferente dos outros. Do quarto animal com 10 pontas destaca-se uma ponta que subia (v.20), e que fazia guerra contra os santos e os vencia (v.21) até que veio o ancião de dias (v.22) e “foi dado o juízo aos santos do Altíssimo e chegou o tempo em que os santos possuíram o reino”.

O quarto animal representa o último reino da terra, o qual será diferente de todos os reinos (v.23)” e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços”. No v 24 Daniel revela que deste último reino se levantarão dez reis e depois outro rei que é diferente dos primeiros e que abaterá a três reis. A característica deste último rei está descrita no v. 25 “e proferirá palavras contra o Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues nas suas mãos por um tempo, e tempos, e metade de um tempo. Segue-se então o juízo (v.26)

Após esse tempo “reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo do céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão “. (v 27)

Esse reino com origem do 4º. reino é ainda futuro, existindo um intervalo de tempo muito grande não visto por Daniel, entre o 4º reino, e aquele derivado deste, que será constituído por 10 reinos e governado pela ponta pequena.

Esta tem características da Besta do Apocalipse, porque comparando com os capítulos seguintes e com Apocalipse, a visão se refere ao fim dos tempos quando se levanta o Anticristo. Voltando ao v. 18: “mas os santos do Altíssimo receberão o reino e possuirão o reino para todo o sempre e de eternidade a eternidade”, pode-se ver que esse verso se encaixa nos eventos do v.22 e v. 27 e só pode ter seu cumprimento no futuro. Eles são uma clara referência aos eventos finais do destino do povo santo: participação do juízo e do reino.

Vê-se que Daniel teve visões que ainda não podia compreender totalmente, mas que trazia esperança de um fim glorioso.

Sabemos pela História, que esses quatro reinos são Babilônia, Medo-persa, Grego de Alexandre, o Grande, e o Romano. Resta ser revelado ainda qual será o reino oriundo do quarto animal, o qual tem 10 pontas, das quais uma se destaca (Dn 7:7,8,19-21). Pela História, como esse último reino ainda é futuro, percebe-se que existe um intervalo de tempo entre os quatro reinos considerados em Daniel e o último reino com as características apresentadas em Daniel 7: 23-25. Esse intervalo inclui o tempo da Igreja de Jesus Cristo.

Para Pentecost as dez pontas são reis confederados com o Anticristo, surgidos do antigo império romano e presentes no período de angústia descrito por Daniel 12:1, isto é, o tempo da tribulação; as três pontas que caem são três reinos que são abatidos pela ponta pequena: o próprio Anticristo quando do seu aparecimento na terra. Pela primeira vez aqui, Daniel revela o tempo do domínio desse rei terrível, a ponta pequena, “um tempo, e tempos e metade de um tempo”. Este será o último reino e precede o reino de Jesus Cristo, o Messias.

 DANIEL CAPÍTULO 8

No capítulo 8 Daniel recebe uma visão na cidadela de Susã, a qual mais tarde se tornou a cidade real do império persa. Esse episódio se passa no ano terceiro do reinado de Belsazar (v.1), que era ainda rei da Babilônia. Daniel (Dn 8:3-12) viu um carneiro e depois um bode. Este venceu o carneiro que tinha duas pontas. O bode tinha uma ponta notável entre os olhos (v.5) e se engrandeceu em grande maneira e aquela ponta foi quebrada e subiram no seu lugar quatro também notáveis. Uma delas se engrandeceu até o príncipe do exército. E o exército lhe foi entregue, com o sacrifício contínuo, por causa das transgressões. (v12). Quando um santo que falava pergunta (v. 13) “até quando durará a visão do contínuo sacrifício e da transgressão assoladora para que seja entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados?”, outro santo responde : “e ele me disse: “até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado (Dn 8:14). No verso 16 uma voz ordena a Gabriel que dê a entender a visão, a qual irá acontecer no último tempo da ira (Dn 8:16-19).

Gabriel, referido como anjo Gabriel em Lucas 1:26, dá a entender a Daniel (Dn8:20-22) que dois dos animais descritos representavam 2 reinos que viriam: o medo-persa (v.20) comparado a um carneiro com duas pontas, e o grego representado pelo bode peludo do qual saíram “quatro também notáveis” ( v.21-22). A História relata que quatro reinos saíram do reino da Grécia como está referido no capítulo 8 verso 22, reinados esses distribuídos por quatro generais de Alexandre, pois ele morreu sem deixar descendência:

  1. Ptolomeu recebeu o Egito e parte da Ásia Menor
  2. Cassandro recebeu territórios na Macedônia e na Grécia
  3. Lisíaco recebeu a Trácia e partes ocidentais da Asia Menor
  4. Seleuco recebeu a Síria, a Macedônia e Israel.

Os v 9-14 provavelmente se referem a Antíoco Epífanes IV, que pertencia ao quarto reino desmembrado do reino grego de Alexandre. Antíoco é interpretado por muitos como um tipo do Anticristo.

As duas mil e trezentas tardes e manhãs começariam quando Antíoco decreta o desrespeito a toda lei judaica. Esse decreto foi publicado em 25 de outubro de 168 AC. Até sua execução -10 de dezembro de 168 AC- ocorreram 45 dias, quando ele mandou erguer outro altar em nome de Júpiter ou Zeus. Daí até 20 de dezembro de 168 AC são mais 10 dias, quando Antíoco profanou o templo, sacrificando um porco dentro dele. A profanação do templo durou 3 anos e 10 dias (1105 dias) Somando-se 45 dias a esse total temos 1150 dias. Como os sacrifícios eram feitos 2 vezes ao dia, pela manhã e à tarde, temos 2300 tardes e manhãs (1150×2), tempo esse referido no v. 14 do capítulo 8:” E ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado”. O Santuário foi purificado por Judas Macabeu, que venceu os sírios cerca de 3 anos após.*

*Nota: O cálculo aqui apresentado tem origem em estudo trazido por Odon Fávero Maranhão à reunião de estudo bíblico e cedido por sua viúva Vivian Cristina Zau Alvarenga Maranhão. Foi baseado nos seguintes autores:

Boyer, O. (1964). Daniel fala hoje. Rio de Janeiro: O. S. Boyer.

Braley, E. (2012). A Neglected Era, from the Old Testament to the New. Hardpress.

Josefo, F. (2001). Uma testemunha do tempo dos apóstolos. São Paulo: Paulus.

Lieth lembra que algumas profecias têm cumprimento mais próximo e ao mesmo tempo um cumprimento no fim dos tempos. Assim Antíoco Epífanes seria um tipo do Anticristo, pois profanou o santuário do templo e perseguiu os judeus ,mas  caiu sob Judas Macabeus no ano de 164 AC, o qual restabeleceu os sacrifícios judaicos. No final dos tempos, o anticristo também profanará o santuário será destruído na 2a vinda de Jesus Cristo. (Dn 9:27; IITs 2:3-4).  Este capítulo suscita dúvidas quanto a este trecho, por ser de difícil interpretação. Pentecost silencia quanto a esses versos. Há muitas interpretações que não parecem válidas por não conseguirem entrar em harmonia com as profecias do capítulo 9 e do Apocalipse.

Já o v23 apresenta uma outra situação: o aparecimento da figura de um rei feroz de cara o qual destruirá os fortes e o povo santo. Ele se levantará contra o príncipe dos príncipes mas será quebrado (v. 25).

Pentecost, assim como Lieth, considera esse rei feroz de cara o próprio Anticristo, porque será durante o surgimento deste que aparecerão os dez reis (as 10 pontas de Daniel 7:20). Não há outras explicações, nesse capítulo, sobre os acontecimentos que se referem a este último rei, apenas que ele será quebrado.

Todas essas profecias mostram a veracidade da Bíblia no que se refere aos reinos que se seguiriam ao Babilônico: o medo-persa, do qual Daniel também participou, do grego com Alexandre, o Grande, da divisão de seu reino entre seus quatro generais após a sua morte. No entanto, o foco principal para entender acontecimentos que acontecerão num futuro mais longínquo para Daniel é o capítulo 9 do livro de Daniel, seguido dos capítulos 10 a 12.

BIBLIOGRAFIA

  1. Biblia de Estudo Scofield. Texto bíblico Almeida Corrigida Fiel. Sociedade Biblica Trinitariana do Brasil; 2007
  2. Bíblia Sagrada. Tradução Revista e Corrigida. São Paulo, Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
  3. Bíblia sagrada. Tradução Revista e Atualizada. 2a ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993
  4. Corrêa, D. As profecias de Daniel. São Paulo: Ed. Barauna; 2010
  5. Davis, J. Dicionário da Bíblia. Junta de Educação Religiosa e Publicações. 12a ed. Rio de Janeiro; 1986
  6. Douglas, JDM. O novo dicionário da Bíblia. São Paulo: Edições Vida Nova; 1990 reimpressão da 1a ed. em português;1962)
  7. Froese, A. Descomplicando as profecias de Daniel. Tradução do original inglês: Daniel prophecies made easy. Porto Alegre: Actual Edições; 2004
  8. Lieth, N. As profecias de Daniel: perspectivas de Futuro. Tradução do Original alemão Zukunftaussichten- Perspektiven aus dem Daniel Buch. Porto Alegre: Actual Edições; 2004
  9. Maranhão, Z.F. Entendendo o Apocalipse, 1993    https://www.zeliafaveromaranhao.com.br/.
  10. Pentecost, J. D. Things to come. Zondervan Plublishing House, Grand Rapids, Michigan; 1958.( Reprinting 1972).
  11. Walton, J.H. Quadros cronológicos do Velho  Testamento , Imprensa Batista Regular , 1991

Marialda Höfling de Padua Dias
Fevereiro de 2017
Revisto em janeiro de 2021