EM DEFESA DO PRÉ-MILENISMO: PARTE I
PARTE I I: PRÉ-MILENISMO E O MILÊNIO
02/09/2021

INTRODUÇÃO

 A interpretação Bíblica exige muito cuidado, prestando atenção aos pormenores e seguindo o que a Constituição de Westminster ensina:

“É preciso que haja concordância entre as passagens, e a Bíblia se prova com a própria Bíblia”.

No estudo da Escatologia existem três linhas principais de pensamento na interpretação profética: pré-milenismo, amilenismo e pós-milenismo. Dentro do pré-milenismo destacam-se: arrebatamento pré-tribulação, quando o crente é arrebatado antes do início da tribulação, arrebatamento no meio da tribulação e arrebatamento  pós-tribulação, antes do início do reino milenar de Cristo. Elas se diferenciam pela interpretação da existência ou não de um reino milenar após a 2ª vinda de Cristo, o milênio, conforme referido no capítulo 20 de Apocalipse. Não se questiona aqui a extensão da obra de Cristo e reforçamos: para salvação é preciso crer no Cristo que já veio e virá como o Messias. Ele é aguardado por Israel, quando todo “o Israel será salvo “ (Rm 11:25-26)

 

Pré-milenismo pré-tribulacionista, Como o nome indica, existirá um reino milenar futuro na terra,  governado por Jesus Cristo após a sua segunda vinda. Cristo arrebata a Igreja antes da vinda dos anos de tribulação referidos em Daniel 9 e descritos no Apocalipse. O crente não está sujeito à ira que recairá sobre Israel e sobre as nações ímpias, que ficam na terra após o arrebatamento da Igreja. Existem bênçãos a serem cumpridas para Israel, como nação, considerando a aliança Abraâmica como incondicional e perpétua. Existem profecias a serem cumpridas só para a Igreja e outras só para Israel. Israel terá um papel importante durante o milênio. A época atual é a época da Igreja.

 

Amilenismo

Não existirá um reino milenar literal na terra, interpretando muitos capítulos do Apocalipse

e o capítulo 20 deste livro, como alegóricos. Para o amilenismo, o reino milenar se iniciou após a ressurreição de Cristo e deve durar até a Sua segunda vinda, seguindo-se o julgamento final, quando os crentes participarão dos novos céus e da nova terra. Cristo reina no coração dos crentes.

Considera as bênçãos prometidas para Israel como para a Igreja, e esta é chamada de Israel de Deus.

 

Pós-milenismo

É muito semelhante ao amilenismo. Ele considera  a época atual  como o Reino de Deus na terra, mas tem um impacto na sociedade. Esse reino será expandido pela pregação do Evangelho, até que a grande maioria venha a crer em Jesus Cristo. Não seriam, no entanto, somente mil anos e nem todos se converteriam, pois o pecado continuaria a existir.

A única diferença importante entre amilenismo e pós-milenismo é a crença, deste último, de que o mundo se converterá, fato que o amilenista não crê. Tanto no amilenismo como no pós-milenismo não existem passagens bíblicas comparadas literalmente, que sustentem esses pontos de vista, tanto no Velho como no Novo Testamento.

No quadro 2 foram colocadas as principais diferenças entre o pré-milenismo e amilenismo, visto ser pequena a diferença existente entre o amilenismo e o pós-milenismo..

Como seguimos a linha pré-milenista pré-tribulacionista, quando utilizarmos o termo pré-milenismo , estaremos nos referindo  a essa linha de interpretação escatológica.

 

Quadro I

PRÉ-MILEMISMO AMILENISMO
Aliança Abraâmica a ser cumprida no que se refere à terra.
Israel é alvo de bênçãos futuras a serem cumpridas como nação após sua conversão a Jesus Cristo.
Nega a posse perpétua da terra e Israel como receptor de bênçãos futuras.
Existirá um Reino Milenar com Cristo como Rei durante mil anos.
Interpretação literal do capítulo 20 de Apocalipse.
Reconhece alegorias mas também dá uma interpretação literal em concordância com as Escrituras.
Não haverá um Reino Milenar na terra.
Cristo reina em cada crente em Jesus Cristo.
Interpretação alegórica do capítulo 20 do livro do Apocalipse, bem como de grande parte desse livro.
O crente em Cristo não participará da ira de Deus e será arrebatado antes da vinda do anticristo. O crente passará pela grande tribulação e o tempo de governo do anticristo.
Nega o arrebatamento da Igreja antes disso.
Israel será uma nação com divisão da terra entre as 12 tribos. Nega esse futuro para Israel.
Distinção entre Igreja e Israel
Igreja não é o Israel de Deus
Não existe essa distinção; Vê a Igreja como Israel de Deus.
Juizo Final se dará no fim do Milênio. Juízo Final se segue imediatamente à 2ª vinda de Cristo em pessoa.

Essas são as principais diferenças entre os dois pontos de vista.

 

No entanto, existe uma semelhança: todos os crentes, tanto pré-milenistas como amilenistas, serão salvos e participarão dos Novos Céus e da Nova Terra , descritos no final do livro de Apocalipse, o que significa que só uma interpretação será verdadeira e será revelada por Cristo na sua volta.

 Como a orientação deste blog é pré-milenista, em resultado de estudos desenvolvidos por um grupo, que se reuniu  por  40 anos e que é referido na Apresentação do Blog, serão colocados aqui os argumentos bíblicos que  levam a essa posição.

 

NTERPRETAÇÃO LITERAL

Quando a Bíblia cita genealogias, números referentes a anos, idades e acontecimentos, eles têm exatamente significado literal. Todos eles têm importância, caso contrário não estariam citados. Só na descrição do dilúvio, o autor descreveu claramente quanto tempo Noé ficou na arca, o tempo que durou o dilúvio. No tempo dos reis, quantos anos cada rei governou Israel, idade de Cristo quando começou o seu ministério. Número sempre teve significado de números literais.

Para deixar clara a promessa a Abraão, Deus faz uma aliança incondicional com Abrão, repete três vezes, no capítulo 17, a promessa de uma terra em perpétua possessão e muda seu nome para Abraão e o de Sarai para Sara. No quadro 2, vê-se que a promessa de terra com sua possessão é repetida várias vezes e são literais. A posse perpétua não foi ainda cumprida, pois Israel não possui todo o território prometido por Deus (Ez 47:13-23; 48:1-35)

No livro de Apocalipse 144000 são referentes a representantes das12 tribos, duas testemunhas são duas, 1260 dias são 1260 dias, sete Igrejas são sete.

Quando Daniel se refere a uma semana de anos de tempo de tribulação sobre Israel (Dn 9:27), esse tempo é interpretado como sete anos no estudo sobre Daniel, o qual é embasado em  autores, que estudaram bem o assunto. (vide estudo de Daniel deste Blog). No livro de Apocalipse 11:2, João refere que a Cidade Santa será pisada pelas nações durante 42 meses. No versículo seguinte ele interpreta como sendo 1260 dias. Exatamente como Daniel previu: na metade da semana.

Quando, no capítulo 20 do mesmo livro, João repete 6 vezes 1000 anos e diz, no v. 4 e 6 “e reinaram e reinarão com Cristo durante mil anos”, fica difícil crer que esse número seja simbólico.  Esta é a interpretação literal preconizada pelos pré-milenistas.

As repetições divinas reiteram sempre o que Deus quis dizer.

O livro do Apocalipse contém várias alegorias, mas não com números. Então porque os amilenistas querem interpretar 1000 anos como alegóricos, se esse número é repetido 6 vezes no mesmo capítulo?

A interpretação literal é feita em toda a Bíblia, com seus símbolos, metáforas e outras figuras de linguagem, mas sempre são passíveis de compreensão. Alegoria bíblica do Apocalipse é mais difícil, mas não quer dizer que tudo é alegórico. Basta comparar com as Escrituras.

 

PAPEL DE GÊNESIS NA INTERRETAÇÃO PROFÉTICA

Desde Gênesis, Deus vai revelando o seu propósito para a humanidade e, paulatinamente, nos faz saber acontecimentos que virão a acontecer.

Ele é o Senhor da História e, nesse contexto, a promessa de Deus a Abraão é básica, para que se possa entender bem o propósito de Deus para a humanidade.

Passando pela genealogia de Adão através do seu filho Set até Noé, deste até Abraão, Deus já revela uma parte da genealogia de Jesus Cristo (Lc 3:23-38).

Deus chama Abrão quando ainda habitava em Ur na Mesopotâmia. A sua fé é revelada desde então, quando ele obedece ao chamado de Deus para se dirigir à terra que Deus lhe daria um dia. Mais tarde Deus muda o nome de Abrão que significava “antepassado famoso” para Abraão “pai de multidão de nações” (Gn17:5)

Em Gênesis 12:1-3, as palavras de Deus são:

1  Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.

2  E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o seu nome; e tu serás uma bênção.

3  E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te  amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.

 

A partir daí Deus repete e acrescenta mais particularidades da benção de Gênesis 12. As bênçãos a ele são repetidas em vários capítulos e depois a seu filho Isaque e a seu neto Jacó.

Está implícita nessa bênção, que é uma aliança incondicional, a herança de um povo para constituir uma nação, i.e, descendentes de Abraão. No quadro abaixo estão colocadas todas as promessas que Deus fez a Abraão e sua descendência.

Terra Terra perpétua Nações e reis
Gen 12:1-3 (Abrão)
Gn 26:4 (Isaque)
Gen 28:13; 35:12(Jacó )
Gn 35:12(Jacó)
Gen 13:15 (Abrão)
“para sempre”
Gn17:19 (promessa a Abraão) aliança perpétua através de Isaque)
Gn17:21 (Isaque)
Gen 48:3-4 ( Jacó repete a seu filho José)
Gn12:2 (nação)
Gn 17:4,6 (nações)
Gn18:18 (Abraão)
uma grande nação
Gn 35:11(Jacó)
Gn 46:3 (Jacó) uma grande nação
Semente multiplicada Em ti serão benditas todas as famílias da terra Bençãos pessoais
Gn13:16 (Abrão) como pó da terra
Gn 17:6 (Abraão)
Gn 22:18 (Abraão) estrelas do céu
Gn 17:19(através de Isaque, concerto perpétuo)
Gn 22:17 (Abraão)
como as estrelas do céu e como areia da paia do mar
Gn 26:4,24 (idem com Isaque)
Gn 28:14( com Jacó) como o pó da terra
Gn 12:3 (Abrão)
Gn18:18 (Abraão)
Gn 22:18 (Abraão)
Gn 26:4 (Isaque)
“em tua semente serão benditas todas as famílias da terra”
Gn 28:14( Jacó)
Gn 12:2 (Abrão)
Gn 22:17(Abraão)
Gn 26:24 (Isaque)
Gn 28:15(Jacó)
Gn 46:3 (Jacó)

 

Nas passagens acima destacam-se as seguintes bênçãos:

1.Posse perpétua da terra de Canaã

2.Descendência numerosa como as estrelas e como areia do mar

3.Uma grande nação

4.Nações sairiam de Abraão

5.Reis sairiam dele

6.Através dele e sua descendência seriam benditas todas as famílias da terra

Como se pode ver, pela História, foram cumpridas promessas de 2 a 6. Israel foi uma grande nação. Todas as famílias da terra foram abençoadas, são e serão, com o nascimento de Jesus Cristo,  descendente de Abraão através de Isaque, Jacó e Judá. (Mt 1:1-16; Lc 3:23-38).

A morte de Jesus na cruz permitiu que todo aquele que crê no unigênito Filho de Deus seja justificado pela graça de Deus,  possa usufruir da paz de Deus, de uma vida de comunhão com Ele, e uma vida eterna.

A Salvação se estende também a todos aqueles que creram e esperavam um Salvador que viria, porque o sacrifício de Cristo é eficaz a todas as épocas.

Das 5 profecias cumpridas uma se destaca, pois explica todas as referências que se faz à herança espiritual de Abraão: em ti serão benditas todas as famílias da terra.

 

Paulo escreve em Gl 3: 29

29 E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.

A qual promessa ele se refere aqui? À promessa feita a Abraão:

Em ti serão benditas todas as famílias da terra”

Isso inclui, na mesma herança, judeus e não judeus, os quais são herança pela mesma fé.

Como já foi referido anteriormente, herança que vem da descendência de Abraão passa pelo 4º filho de Jacó , Judá, e vai até Jesus Cristo.

Abraão aqui não é sinônimo de Israel, pois Israel, em toda a Bíblia, significa a nação que teve como origem no seu neto Jacó, através de seus 12 filhos. Assim, distinguem-se em Abraão uma descendência na fé, na qual se incluem pessoas eleitas  pertencentes  a todas as nações, inclusive judeus convertidos, e uma descendência que é a nação de Israel. Esse nome foi dado a Jacó, pai das 12 tribos, ( Gn 32) embora em  Abraão  tenha sido estabelecida a promessa de uma nação.

Uma só profecia não foi cumprida para a descendência de Abraão: a herança perpétua da terra, incluindo-se aí bênçãos, que são referidas por vários profetas.

Terra significa posse como nação e, a esta, foi destinado um território bem definido na Bíblia. Inicialmente o território foi delimitado entre as 12 tribos, no final do Êxodo, por ocasião da entrada de Israel na Terra Prometida, (vide artigo anterior “Israel e a Igreja“). No entanto, com a segunda vinda de Cristo, haverá uma distribuição distinta daquela. Sua descrição se encontra no livro de Ezequiel (Ez 47-48).

Em todo o Velho Testamento, quando os autores se referem a Israel, é facilmente compreendido que estão se referindo à nação de Israel.

Inúmeras profecias foram escritas a respeito do que aconteceria a Israel como nação: uma ira futura, com grande sofrimento, conversão da nação ao Messias verdadeiro (Zc12) e bênçãos descritas em Isaías e outros profetas.

Com essa exposição vê-se que, para se cumprir uma promessa perpétua, repetida em Gênesis 3 vezes no capítulo 17 e referida por Jacó no capítulo 48 (vide quadro 2), Israel tem de ser considerada uma nação e existir por ocasião da segunda vinda de Cristo. Quando os profetas escrevem profecias a respeito de Israel para um período, que a História mostra que ainda não ocorreu, devem ser entendidas como dirigidas a essa nação. A Igreja ainda era um mistério, como Paulo refere. As profecias acerca do Messias, que havia de vir, foram amplamente abordadas nos Salmos, em Isaías e outros profetas, facilmente entendidas como o Cristo sofredor. Quanto ao futuro para Israel, as profecias devem ser interpretadas em conformidade umas com as outras e também com o livro do Apocalipse.

Israel nunca deixou de ser o povo escolhido de Deus.

Zc 2:8 8  Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Depois da glória ele me enviou às nações que vos despojaram; porque aquele que tocar em vós toca na menina do seu olho.

O Senhor, na sua volta, pisa no monte das Oliveiras( Zc 14:4 )

Assim Paulo, em Rom 11, mostra a diferença nítida entre Israel e Igreja:

 

Romanos 11:1;12; 24-29

1.Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim.

12  E se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!

24  Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa   oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira!

25  Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado.

26  E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades.

27  E esta será a minha aliança com eles, Quando eu tirar os seus pecados.

28  Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais.

29  Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento.

 

 BIBLIOGRAFIA

  1. Almeida, D.F. O Reino Messiânico: as nações, Israel e a Igreja. Porto Alegre: Actual Edições, 2014.
  2. Bíblia Sagrada. Tradução revista e corrigida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil,1995.
  3. Erickson, M.J. Escatologia: a polêmica em torno do milênio. São Paulo: Vida Nova, 2. ed., 2017. Tradução do original: A basic guide to eschatology: making sense of the millenium, 1998.
  4. Ice, T. Entendendo o dispensacionalismo: interpretação literal e coerente da Bíblia. Porto Alegre: Actual Edições, 2004. Tradução dos artigos originais publicados em Pré-Trib Perspectives.
  5. Ice, T. Jesus e o fim dos tempos. Uma interpretação de Mateus 24 e 25. Porto Alegre: Actual Edições, 2012. Tradução do original: An interpretation of Matthew 24-25.
  6. Lieth, N. Por que justamente Israel? Porto Alegre: Actual Edições, 2009.Tradução do Original: Warum Gerade Israel. Dübendorf, Suiça: Verlag Mitternachtsruf.
  7. McClain, A.J. The greatness of the kingdom. Winoma Lake, Indiana: BMH Books Ed, 7. ed., 1992.
  8. Pentecost, J. D. Things to come: A study in biblical eschatology. Grand Rapids, Michigan: Zonderman Publishing House, 1972.
  9. Rhodes, R. A cronologia do fim dos tempos: uma visão geral da Profecia Bíblica. Porto Alegre: Chamada, 2016. Tradução do original: End times in cronological order, 2012.

Marialda Höfling de Padua Dias

Setembro de 2021