DANIEL CAPÍTULO 10

No ano terceiro de Ciro, rei da Pérsia, foi revelada uma palavra a Daniel. Após três semanas completas em que Daniel esteve triste, no dia vinte e quatro do primeiro mês, Daniel viu um homem vestido de linho e seus lombos cingidos com ouro fino de Ufaz. O seu corpo era como turquesa e o seu rosto parecia um relâmpago e seus olhos como tochas de fogo, e os seus braços e os seus pés, como cor de bronze açacalado; e a voz das suas palavras, como a voz de uma multidão. (Dan 10: 5-6) Foi uma imagem que deixou Daniel prostrado (v. 8-9) e, segundo um comentador (Culver, citado por Correa) trata-se de uma Cristofania*( Ez 1:26,28; Ap 1:12-20; Dan 12:4-7 )

No verso 14 Daniel passou a ouvir a mensagem. Desta vez trata- se de um anjo, provavelmente Gabriel, que a revela ao profeta. Antes de chegar, no entanto, ele teve de lutar 21 dias com outro anjo: o príncipe do reino da Pérsia, que é interpretado como um anjo decaído. Com a ajuda de Miguel, um dos primeiros príncipes , ele pôde transmitir a mensagem do verso 14 : “Agora, vim para fazer-te entender o que há de acontecer ao teu povo nos derradeiros dias; porque a visão é para muitos dias.” Nota-se aqui que a mensagem está dirigida em especial ao “teu povo”, repetindo aqui Dan 9:24 “ao teu povo” isto é, Israel. O termo derradeiros dias é interpretado, por Pentecost , como os dias de tribulação de Israel ou seja: a última semana do capítulo 9, a qual precede a segunda vinda de Jesus Cristo.
De novo nesse capítulo há referência sobre o rei da Grécia ( v20) Por esses versículos e muitos outros no Velho Testamento vê-se que muitas profecias se referem a Israel e não podem ser confundidas com aquelas dirigidas aos crentes do tempo da Igreja de Cristo. Aquelas referentes ao tempo da ira de Deus estão destinadas a toda a terra, mas principalmente a Israel. O tempo da ira de Deus é descrito por vários profetas e não se aplicam ao tempo da graça, na qual os crentes estão sob a graça de Cristo, em virtude de sua obra efetuada na cruz. Maiores detalhes serão apresentados no estudo sobre o arrebatamento.
No v 18 o profeta recebe a mensagem declarada pelo mensageiro que tinha semelhança de um homem (10:18), preparando Daniel para o que viria a ser revelado.

• Cristofania é um termo técnico da teologia cristã utilizado para designar as aparições de Cristo pré-encarnado ocorridas no Antigo Testamento. ..

DANIEL CAPÍTULO 11

V.1 “No primeiro ano de Dario, medo, levantei-me para o animar e fortalecer”
Como Ciro venceu a Babilônia em 539 AC e fundou o império medo- persa, este Dario era medo e segundo Dan 5:41, ocupou o reino logo após a tomada da Babilônia. No v.2 Daniel relata que haveria mais 3 reis na Pérsia e o quarto seria poderoso e agitaria todos contra o reino da Grécia. O império persa se estendeu por 200 anos até que Alexandre o Grande, venceu a Pérsia.
No v. 3 ele relata” Depois, se levantará um rei valente, que reinará com grande domínio e fará o que lhe aprouver” , mas no v 4: o seu reino será quebrado e será repartido para os quatro ventos do céu e há previsão de seu fim e a repartição desse reino em quatro reinos, que lhe sucederiam e cujas características são semelhantes às descritas nos capítulos 7 e 8. Referem-se à Grécia (Dan 11:2-3) num simbolismo claro sobre Alexandre, o Grande, rei conquistador grego. Este, sabe-se, conquistou a Pérsia e após sua morte, seu reino foi dividido entre seus quatro generais como está referido no v.4 e também no cap 8. Até o v. 35 esse capítulo de Daniel trata de períodos de guerra, as quais realmente aconteceram na História e que se seguiram à divisão do reino de Alexandre da Grécia. Outras guerras são referidas principalmente entre norte e sul. O estudioso de profecias futuras (escatologia), Norberth Lieth é da opinião que a partir do v.36 a revelação se refere à época do Anticristo e considera os acontecimentos dos versos 1-35 como já tendo ocorrido na História. No v 36 começa a descrição de um rei que tem as características do Anticristo. Pentecost é dessa opinião também.

Até o v.39 há uma descrição que se assemelha à descrição do Anticristo de Ap 13:5-6.

Dan 11:36 “ E esse rei fará conforme a sua vontade, e se levantará, e se engrandecerá sobre todo deus; e contra o Deus dos deuses fará coisas incríveis e será próspero até que a ira se complete; porque aquilo que está determinado será feito” Tanto Pentecost como Lieth concordam que, pelas características descritas desse rei em Dan 11:36-39, Daniel descreve a figura do Anticristo.

A partir do verso 40 até o 45 Daniel faz referência às ações das lutas que ocorrerão no fim do tempo
Nos v 40-41 Daniel se refere à invasão de reinos do sul e do norte na luta contra esse rei terrível, não se estendendo a detalhes aqui, mas acrescenta que ambos, o rei do Sul e do Norte, não subsistirão, escapando Edom e Moabe e as primícias dos filhos de Amom.

Os V 42 a 43 trata da vitória do Anticristo sobre o Egito.

Ezequiel ( cap 38-39:7 ) narra esse período com mais detalhes. Segundo Pentecost essa invasão ocorreria no início da última metade dos sete anos de tribulação referidos em Daniel 9.

Ez 38:22 fala em destruição por uma chuva inundante e grandes pedras de saraiva que caem sobre as tropas dos reis do norte e em Ez 39:4, ao se referir à mesma invasão:“ e entrará nas terras, e as inundará e passará.”

No verso 44 do cap. 11 de Daniel ele introduz um outro fato“ os rumores do Oriente e do Norte o espantarão; e sairá com grande furor, para destruir e extirpar a muitos” . Em seguida, no v 45, faz referência à época da última semana de Daniel, quando as tropas da besta ocupam Israel, mas que termina com o fim da besta “ E armará as tendas do seu palácio entre o mar grande e o monte santo e glorioso; mas virá ao seu fim, e não haverá quem o socorra”.

É interessante notar que em Ap.16:12 lê-se: „” e o sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates, e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do Oriente“ Isso significa que a referência sobre a invasão do oriente já estava referida no capítulo 11 de Daniel. Sabe-se, pela profecia do apóstolo João, que esses fatos precedem a batalha final de Armagedom, citada em Ap16:16 : “E os congregaram no lugar que em Hebreu se chama Armagedom” , ocasião em que haverá destruição da grande Babilônia na vitória final de Jesus Cristo. Termina com a destruição de todos os inimigos de Israel , com a condenação da Besta ou Anticristo e do falso profeta ( Ap 19:20) e a prisão do dragão ou Satanás ( Ap 20:1-3)

Ver também, Zac 12:1-9; 14:1-4; Is 33:1-34:17; 63:1-6; 66:15-16; Jer. 25:31-33.

Daniel, quando descreve a figura do Anticristo, o faz o de maneira mais velada, a qual é melhor explicitada por João no livro do Apocalipse.

DANIEL CAPÍTULO 12

No v.1 Daniel faz alusão a Miguel, o grande príncipe, “que se levanta pelos filhos do teu povo”.
O príncipe Miguel, que em Judas 9 é chamado de arcanjo, parece estar relacionado com mensagens para o povo hebreu, enquanto Gabriel se relaciona ao anúncio sobre Jesus Cristo, como aparece em Daniel 9:21 e na anunciação do nascimento de Jesus Cristo em Lucas 1:26.

Esse mesmo verso 1-“ um tempo de angústia para o povo de Deus, o qual nunca houve” ,é uma referência clara ao sofrimento sob o Anticristo, durante a última semana de anos, i.e. a semana da tribulação. Há aqui novamente a expressão “ao teu povo” mostrando claramente que ele está falando ao povo hebreu. No v 2 ele cita duas ressurreições: uma para a vida eterna e outra para desprezo eterno. No livro do Apocalipse lemos : “bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte”( Ap 20:6 ). A segunda morte é aquela reservada para os que não creem em Jesus como salvador e, quando morrem, não vão ao paraíso, aguardando a ressurreição para a vida, mas esperarão a ressurreição para julgamento final e condenação eterna ( Ap 21:8).

No v.3: haverá um tempo em que os sábios resplandecerão.

No v. 4 a mensagem de que as palavras deste livro deverão ser fechadas e o saber se multiplicará. Está claro para todos que o desenvolvimento principalmente científico encaixa-se nessa descrição, mas pode ser também que o profeta está se referindo ao saber do estudo da Palavra de Deus.

No v. 6 “ Que tempo haverá até o fim das maravilhas?

No v.7 novamente aparece o conceito do tempo :um tempo, dois tempos e metade de um tempo. Como já foi visto, 3 anos e meio ou 1260 dias.

Na metade da semana de anos o Anticristo quebra sua aliança com Israel e profana o templo, dando início à perseguição dos judeus.

No v. 9 ele repete novamente que estas palavras estão fechadas até o tempo do fim. No V. 10 : os ímpios não entenderão mas os sábios sim.

Pode ser uma referência ao conhecimentos que só os crentes e os que esperam a segunda vinda possuem.

No v 11 “E, desde o tempo em que o contínuo sacrifício for tirado e posta a abominação desoladora, haverá mil duzentos e noventa dias”. O tempo portanto é especificado :1290 dias “, o que corresponde a três anos em meio (42 meses ou 1260 dias de Ap 11:2-3) e mais 30 dias. Já no v.12: “Bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias”. O profeta acrescenta mais 45 dias, de modo que entre a 2ª vinda e o término do período são mais 75 dias.

A interpretação apresentada por Lieth sobre esse acréscimo de 75 dias após os 1260 dias é a seguinte: Com o término dos sete anos de tribulação, e com a 2ª vinda de Cristo, 30 dias seriam utilizados para afastar a abominação desoladora e o falso profeta, referidos no v.11 e em Ap.19:20. Os 45 dias restantes seriam utilizados para o Juízo sobre a terra, ao qual seguiria o período do milênio ( Ap 20: 5-6), que são mil anos do governo de Jesus Cristo na terra. Essa época é descrita por vários profetas do V.T

Após o milênio virá o juízo final, fato que não foi revelado a Daniel, mas revelado a João no livro do Apocalipse (Ap 20:4).

O diagrama apresentado por Lieth, no seu livro sobre as profecias de Daniel, é bem esclarecedor.

Fonte:Lieth,N., 2004

Quando se estuda Daniel e Apocalipse o plano profético fica mais claro. Sabemos que Deus revela o futuro através de muitas profecias.
Mesmo estudando-as com apoio de versos paralelos, sabemos que a palavra final e a revelação final a Deus pertence. A interpretação aqui foi feita baseada na própria palavra de Deus. A revelação plena só saberemos quando Cristo voltar. Só sabemos com certeza, que ela se cumprirá.

RESUMO:
Desde a ordem para restaurar e edificar Jerusalém até Messias o Príncipe seriam 69 semanas, as quais terminam com a entrada de Jesus em Jerusalém. Após sua morte, existe um período de tempo, que é o tempo da Igreja de Cristo. Com a retirada desta, na época do arrebatamento, dá-se início a uma semana de anos (7 anos) de tribulação sobre a terra e sobre Israel, tempo esse em que o anticristo domina. No início, o Anticristo e sua coligação de reinos faz um acordo de paz com Israel mas na metade dessa semana ele rompe o acordo de paz. Passa então a agir como ele realmente é : o homem do pecado, comandado por Satanás. Os últimos 3 anos e meio começam com o rompimento do Anticristo com Israel e profanação do templo. O Anticristo se coloca no lugar de Deus, promovendo um período de grande sofrimento para Israel. Acontece a invasão de Israel pelos reis do norte e do sul que são destruídos e finalmente a batalha de Armagedom , que termina com a vitória de Cristo. Esses anos terminam com a segunda vinda de Cristo , o julgamento da besta e do falso profeta ( Ap 19:20) e dos seguidores do Anticristo ( Ap 19:21); a prisão do Dragão por mil anos ( Ap 20:2-3 ). Segundo Zelia Fávero Maranhão ocorre nesse período a ressureição dos santos do Velho Testamento para governar com Cristo durante o milênio, e os crentes que sofreram na grande tribulação seriam talvez os últimos salvos a ressuscitar.

Note-se que a Igreja já fora arrebatada antes do início do período de tribulação e volta com Cristo para participar do milênio.

A tribulação termina com a entrada no milênio, reservado somente para aqueles que creem em Cristo como seu Salvador .
Mateus 25:31-33 ” E, quando o filho do Homem virá em sua glória, e todos os santos anjos, com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas. E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à sua esquerda”
No verso 34: “ Vinde benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo“

BIBLIOGRAFIA

1. Biblia de Estudo Scofield. Texto bíblico Almeida Corrigida Fiel.
Sociedade Biblica Trinitariana do Brasil; 2007

2. Bíblia Sagrada. Tradução Revista e Corrigida. São Paulo, Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.

3. Bíblia sagrada. Tradução Revista e Atualizada. 2a ed. São
Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993

4. Corrêa, D. As profecias de Daniel. São Paulo: Ed. Barauna; 2010

5. Davis, J. Dicionário da Bíblia. Junta de Educação Religiosa e
Publicações. 12a ed. Rio de Janeiro; 1986

6. Douglas, JDM. O novo dicionário da Bíblia. São Paulo: Edições Vida
Nova; 1990 (reimpressão da 1a ed. em português;1962)

7. Froese, A. Descomplicando as profecias de Daniel. Tradução do original inglês: Daniel prophecies made easy. Porto Alegre: Actual Edições; 2004

8. Lieth, N. As profecias de Daniel: perspectivas de Futuro. Tradução do Original alemão Zukunftaussichten- Perspektiven aus dem Daniel Buch. Porto Alegre: Actual Edições; 2004

9. Maranhão, Z.F. Entendendo o Apocalipse, 1993
A ser publicado no site da autora. https://www.zeliafaveromaranhao.com.br/.

10. Pentecost, J. D. Things to come. Zondervan Plublishing House, Grand Rapids, Michigan; 1958.( Reprinting 1972).

11. Walton, J.H. Quadros cronológicos do Velho
Testamento , Imprensa Batista Regular,1991

Marialda Höfling de Padua Dias
Maio de 2017